domingo, setembro 26, 2010

i only ask of god

de que valem as palavras e as metafísicas. as lógicas e os silogismos. as razões e as retóricas. para quê estadiar a autenticidade  diminuída das formalidades  inúteis como fim em si mesmas. ou financiar a opacidade dos olhares profundos e das lágrimas cheias de sal e nada. a macicez dos conflitos insondáveis e perenes.

se vale a pena ter um coração grande quando as mãos são pequenas. (para que serve ter um coração do tamanho do mundo se não se consegue tocar os pés com as mãos.)
 

"um homem havia de ser medido pelos seus actos, pouco importando se dentro de casa era feito daquela mariquice de acreditar em deus ou da macheza cretina de se ligar aos malfeitores, estejam eles escudados numa igreja ou num governo.
"
(V.H.M, a máquina de fazer espanhóis)

quarta-feira, setembro 22, 2010

entre paredes e corredores


desenha-se o confronto que metade do curso adiou, por insistir em dar primazia aos acabamentos decorativos em detrimento dos alicerces. desta forma, acaba por ser o ciclo clínico a devolver ao estudante a retrospectiva de uma casa feita ao contrário. 

mais vale tarde do que nunca não chega. porque hoje há estudantes de medicina doentes. e amanhã haverá médicos doentes. e ontem houve pessoas doentes que morreram sem nome.

entre paredes e corredores e a indiferença de quem tem por hábito escorregar o fuso horário hospitalar, pelo menos que surja essa oportunidade. para reconhecer e discutir a possibilidade de nos fazermos pessoas felizes. antes que seja tarde demais. 

ou antes que seja nunca.

segunda-feira, setembro 20, 2010

contrastes

há dias assim. em que os verbos rir e chorar completam a expressão do mesmo sentimento. 
plural não ambíguo. indefinido pelo presente incerto e pelo futuro expectante.

mas concreto. na certeza feliz que a memória empresta à alquimia dos sonhos.

sexta-feira, setembro 17, 2010

jogo de palavras

Habituamo-nos a emprestar sentidos às palavras ditas.
Com recursos vários, entre estilos e camadas, sabemos bem como camuflar a nudez dos sentimentos. Exercitamos a técnica em cada jogada até perfazer a pontuação que inverte a verdade autêntica.

Como se de organismos susceptíveis a maleitas e afins se tratasse, ensinam-nos a protegê-los do frio e da chuva. Aprendemos a gramática e exercitamos a expressão.
Até chegar o dia em que o melhor agasalho se revela inútil, porque a vulnerabilidade caminha de mãos dadas com a resistência.
E tornamo-nos resistentes à simplicidade das palavras despidas.
Resistentes à verdade desprotegida. Desaprendemos de dizer.

Salva-nos a paliação gratuita de quem nos estende a mão.
De quem nos despe os agasalhos frios. De quem nos aquece a alma com o calor genuíno das palavras que não podem ser ditas. 

E juntos começamos a fazer da vida um jogo de silêncios.


sexta-feira, setembro 03, 2010