segunda-feira, novembro 29, 2010

âncoras

estes pequenos abrigos que a solidão agarra e protege. as ínfimas certezas que só os sonhos enormes sabem entender e aceitar. as palavras repartidas que roubam ao tempo a pressa, diluindo as mágoas num sopro comum. os gestos gratuitos cujo único retorno é a surpresa imersa pelas rotinas e acasos da vida de todas as noites. as cavernas de silêncio habitadas pelos fantasmas a dilatar o negro das páginas passadas.

 
E a haste terminada pelas linhas que intersectam os membros, desenha o prolongamento da morte que morreu. da morte que o amor matou.

Porque sem as âncoras que nos devolvem à substancia transpirada do que acontece, somos eternos náufragos na incerteza  precária de um qualquer bote salva mortes. sem um porto seguro onde ancorar as latências da felicidade possível.

A antecipar medos e tempestades no diâmetro fechado de um farol ansioso.

domingo, novembro 07, 2010

as coisas vulgares que há na vida

também deixam saudade. ao escutar os velhos de um tal jardim acústico, reparo que projectam o eco em notas sem acorde. vulgares, porque experimentaram toda uma vida, cabem sem nome em qualquer verso ou história.

E deixam saudade. não aquele sentimento  vulgar de quem se habitua a gostar de tudo o que vive no passado,  mas uma saudade que desenha  a memória dos sonhos com rugas na face, artroses nos joelhos, hiperglicemias no olhar e o coração hiper-tenso.

As coisas vulgares especializam a vida. e são as vidas que deixam saudade.