como as palavras que roubamos à consciência dos dias menos fáceis. aqueles dias cinzentos, nos quais não apetece existir como se vivêssemos. emprestamos tempo ao que é eterno e esperamos que, de preferência, nos devolvam em felicidade já amanhã.
Amanhã, tenho a certeza, vamos sempre querer ser felizes.
E no que diz respeito à felicidade, temos sempre muito a agradecer àqueles que não nos fazem as vontades de ânimo leve. aqueles seres insensíveis que subtraem o prazer imediato à capacidade de criar quando não existe mais nada para acreditar ou esperar. são estes os mestres a quem mais tarde vamos beber a paixão pela vida e o ódio pela anorexia de existir. pela emese de ir passando pelas noites e pelos dias.
Ou as águas furtadas à mágoa dos pretéritos imperfeitos. porque nunca é fácil abrir o sotão das coisas que fizemos em vão, que sofremos em vão, que fizemos sofrer sem sentir para quê. dos sentidos inacabados. dos sonhos impossíveis. É bem menos difícil partilhar a varanda aberta ao sol dos dias prováveis ou passados perfeitos.
Mas no fim de tudo subtraido à solidão da consciência, percebemos que não pode haver mais chão para cair. não pode haver mais sonhos não possíveis. não podemos não ser quem somos. não podemos não ser quem queremos ser.
As águas furtadas à felicidade são sempre finitas.