domingo, fevereiro 27, 2011

óleo e carvão (II)

E essa vida que trazes, guerreira, junto ao peito. o ventre sagrado e as mãos fissuradas, a voz quente e sábia. transpiras, sofrida, a história que guardas para os teus, entre lágrimas e silêncios.  és lúcida e transparente. 

(Quero dizer-te,
- nesta eterna demanda, o teu sorriso terno, finito, não é apenas necessário. é condição essencial)

E esses contornos densos, estas palavras, pele espessa e delicada, coração cheio, inquieto. Desenho como quem ama

(preciso que o teu sorriso exista)



óleo e carvão (I)


e os traços no papel, as manchas de calor e timidez. pele sulcada e olhar suspenso, inquieto,  à procura de um horizonte seguro onde ancorar as certezas mais débeis e intermitentes
 - quero-te bem. 

 A vida ensina a sofrer mas não ensina a amar, ouvi-te dizer. quiseram vender-te livros com instruções erradas e por isso nunca soubeste em quem confiar. não sabes ainda. posso dizer-te que a lógica nem sempre tem razão? que podes confiar e saber depois
quero-te bem.  

E o teu humor oscila com um ritmo próprio que nem tu sabes entender. nunca soubeste (aquilo que esqueceste de me ensinar). sei-te distante enquanto desenho o teu rosto em dias de sol. mas é o calor das palavras quem escreve. é o calor das histórias nas memórias que serão amanhã a dizer
(quero-te bem)  



sexta-feira, fevereiro 18, 2011

chávena de café (gramáticas)


eufemismo do cansaço, dos dias maiores do que o tempo que trazem dentro.
perífrase do prazer das coisas banais de um quotidiano qualquer.
metáfora do combate entre corpo e manhãs de hiperssónia. 

a personificar pacotes de existência,
(como quem dissolve os acasos de vidas áridas e reticentes do que é preciso)

bebo (contigo) o café finito de uma chávena gratuita.


quarta-feira, fevereiro 09, 2011

domingo, fevereiro 06, 2011

águas furtadas


como as palavras que roubamos à consciência dos dias menos fáceis. aqueles dias cinzentos, nos quais não apetece existir como se vivêssemos. emprestamos tempo ao que é eterno e esperamos que, de preferência, nos devolvam em felicidade já amanhã. 
Amanhã, tenho a certeza, vamos sempre querer ser felizes. 

E no que diz respeito à felicidade, temos sempre muito a agradecer àqueles que não nos fazem as vontades de ânimo leve. aqueles seres insensíveis que subtraem o prazer imediato à capacidade de criar quando não existe mais nada para acreditar ou esperar. são estes os mestres a quem mais tarde vamos beber a paixão pela vida e o ódio pela anorexia de existir. pela emese de ir passando pelas noites e pelos dias.

Ou as águas furtadas à mágoa dos pretéritos imperfeitos. porque nunca é fácil abrir o sotão das coisas que fizemos em vão, que sofremos em vão, que fizemos sofrer sem sentir para quê. dos sentidos inacabados. dos sonhos impossíveis. É bem menos difícil partilhar a varanda aberta ao sol dos dias prováveis ou passados perfeitos. 

Mas no fim de tudo subtraido à solidão da consciência, percebemos que não pode haver mais chão para cair. não pode haver mais sonhos não possíveis. não podemos não ser quem somos. não podemos não ser quem queremos ser. 

As águas furtadas à felicidade são sempre finitas